Move Flow e Dor Lombar Crônica: Quais os Benefícios?

Move Flow e Dor Lombar Crônica

por Keila Antunes
Fisioterapeuta e Embaixadora Move Flow

A dor lombar é um problema frequentemente encontrado na atualidade, atingindo em média 33% da população mundial segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (YANG et al., 2018). No Brasil, a dor lombar é a segunda causa de afastamento do trabalho.

A dor lombar é uma complexa síndrome que se manifesta por uma dor ou desconforto na região inferior da coluna vertebral e persiste por um tempo superior a três meses. Sua causa é variada e inespecífica, pois se trata de diversos fatores, sejam biológicos, fisiológicos e biopsicossociais (AIRAKSIENEN et al., 2006).

A gravidade dos sintomas na dor lombar é muito variável, pois alguns episódios podem ser autolimitados e se resolvem sem terapia específica, mas em alguns casos a dor lombar pode ser dolorosa o suficiente para exigir tratamento especifico.

Por muito tempo o foco dos estudos para entender a dor lombar, em sua maioria, limitou-se a patologias estruturais das vértebras e tecidos associados, fatores biomecânicos e neuropsicossociais e anormalidades no controle motor.

Contudo, alguns estudos têm proposto que as fáscia ou sistema miofascial pode ter envolvimento na dor lombar crônica por apresentar redução do deslizamento e aumento em 25% da rigidez tecidual da fáscia toracolombar (FTL) em indivíduos com dor (CHOLEWICKI et al., 2019; TOZZI e VITTURINI, 2011; ZUGEL et al., 2018; De CONINCK et al., 2018).

Fascia e sistema fascial

A fáscia é o maior sistema do corpo, ela é um tecido conjuntivo fibroso parecido com uma teia, que se espalham por todos os ossos, tendões, órgãos e músculos, de forma continua da cabeça aos pés.

Segundo a educadora física e idealizadora do método Move Flow, Fernanda Avancini, a fáscia é a roupa interna que carrega a nossa história e transborda no nosso mundo externo, essa nossa roupa promove uma dança fluida e se comunica de diversas línguas.

Importante salientar que fáscia é uma bainha, uma folha ou qualquer outra agregação dissecável de tecido conjuntivo, que se forma sob a pele para unir, envolver e separar músculos e outros órgãos internos. Já sistema fascial é uma rede de tecidos que interagem e estão interdependentes para gerar movimento (STECCO, 2015).

Em resumo, a fáscia fornece continuidade estrutural e funcional entre os tecidos duros e moles do corpo. É um componente sensorial, elástico-plastico universal, que reveste, apoia, separa, conecta, divide, envolve e da forma e funcionalidade ao resto do corpo, ao mesmo tempo em que permite fluidez e o deslizamento dos movimentos, bem como desempenha um papel importante na transmissão de forças mecânicas entre estruturas (SCHLEIP, 2020).

De certa forma, é assim que a fáscia se comporta quando saudável e totalmente funcional . na realidade, por conta de diversos fatores, entre eles, idade, trauma, ou inflamação, podem causar encurtamento da fáscia, tornando-a dolorosa e restrita, limitando a transmissão de força coerente  ou interações de deslizamento entre as camadas da fáscia (LANGEVIN et al., 2009).

 

Fáscia toracolombar

A fáscia toracolombar é uma grande área de tecido, que abrange as partes torácicas e lombares da fáscia profunda que envolvem os músculos intrínsecos das costas. Ela é mais desenvolvida na região lombar e consiste em várias camadas de fibras de colágeno cruzadas.

Ela é um complexo de várias camadas que separam os músculos paraespinhais dos músculos da parede abdominal posterior, quadrado lombar (QL) e psoas maior.

Na região torácica, forma uma fina cobertura para os músculos extensores da coluna vertebral. Medialmente, é anexado às espinhas vertebrais torácicas e, lateralmente, às costelas, perto das suas curvaturas.

Na região lombar é inserida à espinha vertebral, mas, também, forma uma forte aponeurose que se conecta lateralmente aos músculos planos da parede abdominal. Medialmente, se divide em camadas anterior, média e posterior. As duas primeiras camadas circundam o quadrado lombar e as duas últimas formam uma bainha para os músculos eretores da espinha e multifidus.

Abaixo, a fáscia toracolombar está ligada ao ligamento iliolombar, à crista ilíaca e à articulação sacroilíaca. Por meio de seu amplo apego as espinhas vertebrais, a fáscia toracolombar é presa aos ligamentos supra e interespinhal e à cápsula das articulações facetárias.

A fáscia toracolombar tem por função a estabilização da coluna e transferência de cargas para os membros inferiores, pois possui uma parte crítica de uma cinta miofascial que envolve a parte inferior do tronco (WILLARD FH ET AL., 2012).

 

Fáscia toracolombar e a dor nas costas

A fáscia toracolombar é um tecido muito poderoso no corpo, pois é essencial para um movimento coordenado, além de ser um local de fixação e um elemento de conexão para diversos músculos e articulações da parte inferior e superior das costas, como já falamos.

Portanto, não é incomum que ocorra dor nas regiões média ou lombar decorrentes de lesão da fáscia toracolombar. Além disso, a camada mais superficial da parte posterior dela possui grande concentração de receptores neurais nociceptivos e com isso grande potencial de informação aos centros superiores podendo justificar a percepção dolorosa nessa região, sendo dessa forma uma explicação para a causa da dor.

Além da dor na região toracolombar pode se desenvolver pontos-gatilho na fáscia e aderências que podem interferir na eficácia da transmissão de forças, reduzindo a amplitude de movimento.

A dor nas costas pode fazer com que o indivíduo altere seu movimento para compensar o desconforto, causando dor em outras partes do corpo, desta forma tornando imprescindível o tratamento através da fáscia em movimento.

 

Fáscia e sua adaptação

A contração do tecido neuromiofascial pode resultar em graus variados de ligações indutoras de dor, ou aderências entre as camadas que deveriam ser capazes de se esticar e deslizar umas sobre as outras, desta forma, prejudicando a função motora. Alterando também equilíbrio muscular, controle motor e propriocepção (STECCO, 2009).

 

Opções terapêuticas para a Dor Lombar

Segundo Schleip (2020), quando o potencial dos movimentos de fluir/deslizar da fáscia é reduzido, doloroso ou foi perdido, o restabelecimento da função normal requer atenção aos fatores causais, assim como aos de manutenção, associados às camadas disfuncionais.

Existem múltiplas estratégias que visam melhorar, corrigir ou reabilitar a disfunção em evidencia, podemos resumir desta forma:

  • Redução de carga adaptativa;
  • Melhorar funcionalidade (postura, função respiratória, nutrição, sono, exercício físico, mobilidade e estabilidade dos tecidos);
  • Redução dos sintomas

.

Move Flow como estratégia terapêutica

Segundo o guideline para dor lombar de 2021, para tratamento de paciente com dor lombar crônica (persistente), as recomendações mudam, visto que a manipulação\ajuste vertebral continua sendo fortemente recomendada.

Porém, agora a terapia por exercício tem o mesmo grau de indicação. Também vale observar, que tanto a educação em neurociência da dor, quanto treinamentos específicos como o Pilates, também são fortemente indicados.

Outro ponto a ser notado, é quando a dor lombar vir associada a dor na perna (ciática), tanto o Método Mckenzie, (Mechanical Diagnosis andTherapy), quanto a manipulação vertebral tem boa indicação.

O que fica de lição nessa guideline para dor lombar, é que todo tratamento tem que ser centrado no paciente, levando em consideração a individualidade, tempo no qual a dor existe e aspectos psicossociais.

O profissional do movimento tem que estar a par de todas essas questões, possuir conhecimento extenso sobre as possibilidades terapêuticas e lança-las quando forem necessárias, desta forma existe as terapias fasciais que nos amparam em alguns casos, entre eles vamos citar o Move Flow.

Move Flow é uma nova maneira de movimentar-se e trabalhar a respiração, força, flexibilidade e o condicionamento físico, melhorando cada vez mais sua consciência corporal através da estimulação da fáscia com o auxilio da bolinha texturizada.

É um método que utiliza a fáscia em movimento para a manutenção de um corpo resiliente e sem dor, é a peça que faltava para a melhora da dor e disfunções musculoesqueléticas.

O método utiliza como base o treinamento da fáscia, trabalhando o corpo de forma global, por isso, pessoas com dor e disfunções de coluna podem beneficiar-se muito. O Move Flow possui 10 pilares de treinamentos, e utiliza a musica como fio condutor da aula, trazendo um ambiente acolhedor para pessoas com dor.

Além disso, o método é altamente eficiente e seguro para todos os públicos, com ou sem dor, idosos, crianças, pessoas com pouca mobilidade, pós cirúrgicos, entre outros. Podemos citar alguns benefícios do Move Flow para pessoas com dor:

  • Alivia as tensões do corpo;
  • Aumenta a consciência corporal;
  • Prepara o corpo e a mente para a prática de outras atividades físicas, como pilates, musculação e treinamento funcional;
  • Melhora a flexibilidade corporal sem agredir a nossa estrutura;
  • É um método prático que pode ser feito em qualquer lugar e por qualquer pessoa;
  • Diminui o stress e a ansiedade;
  • Melhora a capacidade respiratória;
  • É eficiente como aliado em processos de reabilitação;
  • Promove o bem estar físico e mental.

 

Gostou do conteúdo? Quer saber mais sobre o universo fascinante da fáscia e a importância de estimulá-la? Confira outros artigos aqui no nosso blog e também siga o Move Flow nas redes sociais.

 

Referências Bibliográficas:

  • Yang, G.; Liao, W.; Shen, M.; Mei, H. Insight into Neural Mechanisms Underlying Discogenic Back Pain. J. Int. Med. Res. 2018, 46 (11), 4427–4436. https://doi.org/10.1177/0300060518799902.
  • AIRAKSINEN, Olavi et al. Chapter 4 European Guidelines for the management of chronic nonspecific low back pain.European spine journal, v. 15, n. 2, p. s192-s300, 2006.
  • CHOLEWICKI, J.; BREEN, A.; POPOVICH, J. M., Jr.; REEVES, N. P. et al. Can Biomechanics Research Lead to More Effective Treatment of Low Back Pain? A PointCounterpoint Debate. J Orthop Sports Phys Ther, 49, n. 6, p. 425-436, Jun 2019.
  • De Coninck, K.; Hambly, K.; Dickinson, J. W.; Passfield, L. Measuring the Morphological Characteristics of Thoracolumbar Fascia in Ultrasound Images: An Inter-Rater Reliability Study. BMC Musculoskelet. Disord. 2018, 19 (1), 180. https://doi.org/10.1186/s12891-018-2088-5.
  • The thoracolumbar fascia: anatomy, function and clinical considerations. Willard FH, Vleeming A, Schuenke MD, Danneels L, Schleip R.J Anat. 2012 Dec;221(6):507-36
  • The posterior layer of the thoracolumbar fascia. Its function in load transfer from spine to legs. Vleeming A, Pool-Goudzwaard AL, Stoeckart R, van Wingerden JP, Snijders CJ. LRSpine (Phila Pa 1976). 1995 Apr 1; 20(7):753-8.
  • Stecco, C. Functional Atlas of The Human Fascial System, Churchill Livingstone Elsevier, 2015.
  • Stecco, L. & Stecco, C. Fascial Manipulation: Pratical Part. Italy: Piccini, 2009.
  • Schleip, Robert. Fascia no esporte e no movimento/ Robert Schleip; tradução Johannes Carl Freiberg Neto, Maria Claudia Palomo. – 1. Ed. – Barueri (SP): Manole, 2020.
  • WHO guideline for non-surgical management of chronic primary low back pain in adults in primary and community care settings. ISBN 978-92-4-008178-9 (electronic version) ISBN 978-92-4-008179-6 (print version) © World Health Organization 2023.